"Há mais de dois anos que membros da Associação de Ex-Deputados da Assembleia da República (AEDAR) se reúnem na primeira terça-feira de cada mês, nas instalações do palácio de São Bento, para reflectirem sobre o estado da política portuguesa.
Ao todo são mais de 300 ex-parlamentares preocupados com a qualidade da democracia. Sustentam que o Parlamento merece ser constituído por deputados de melhor qualidade e prometem intervir para "valorizar a dignidade da Assembleia da República perante a Opinião Pública".
De forma discreta, estão atentos a toda a actividade parlamentar e são observadores na Associação Europeia de Antigos Parlamentares, que integra ex-deputados e senadores europeus.
O socialista Eduardo Pereira, que preside à associação, não hesita em defender que as incompatibilidades dos deputados "devem voltar a ser revistas" e sugere que a chegada a presidente de comissão parlamentar deve ser feita unicamente "por mérito".
Ao JN, o ex-deputado sustenta que "os partidos deveriam ter uma escada de acesso aos lugares" e defende que "o viveiro onde se vão buscar os deputados deve ser muito bem trabalhado". "Não são os tecnocratas que dão bons deputados" adverte.
Um problema de recrutamento dos políticos - diz o antigo presidente da comissão parlamentar de Defesa - pode estar a "minar" a qualidade parlamentar, facto que se liga directamente "à escolha das pessoas certas para tratar os temas certos nas comissões da Assembleia".
"É preciso melhorar a qualidade dos deputados", reclama, enfim, o socialista que foi parlamentar eleito desde o primeiro governo constitucional e por duas vezes exerceu funções governativas - como ministro da Habitação, Urbanismo e Construção e como titular da pasta da Administração Interna.
Sã convivência
Em 16 de Julho de 2003 um grupo de sete fundadores (Vítor Moura e Eduardo Pereira, do PS; José Luís Nogueira de Brito, do CDS; José Manuel Maia, do PCP; Luís Barbosa, antigo dirigente do CDS; Luís Nandim de Carvalho, do PSD; e Mário Tomé, da UDP) deu corpo ao projecto de constituir uma associação que interviesse sem constrangimentos políticos e pudesse preparar temas para os quais os deputados os consultem.
"Somos um repositório de experiência e sensibilidade políticas não negligenciável", defendem no projecto de estatutos, reclamando-se detentores de "um património feito de conhecimentos, de experiência e de tolerância dos seus membros".
A diversidade de filiações políticas está expressa nos órgãos de direcção. Além do socialista que preside à AEDAR, o presidente da assembleia geral é José Manuel Maia (PCP) e Alípio Dias (PSD) preside ao conselho fiscal. "Desde o início quisemos ser uma associação que agregasse gente de todos os partidos", diz Eduardo Pereira.
Entre os objectivos da AEDAR está o propósito de "consolidar a unidade" dos ex-deputados, dar o exemplo de "sã convivência democrática entre pessoas de origens, pensamento e ideologias diferentes" e promover acções pedagógicas de "pluralismo e tolerância".
O nascimento do projecto
O nascimento do projecto
Criada em Julho de 2003, só em Dezembro de 2004 se realizaram eleições para os seus corpos sociais. Em Janeiro seguinte começam a funcionar em pleno. Até Dezembro de 2004 inscrevem-se 240 sócios e em 2005 apenas 15 por incapacidade de abranger mais inscritos. O presidente da Assembleia, Jaime Gama, recebe, então, a AEDAR em Março desse ano e incentiva os membros a proporem-se como associação de interesse parlamentar. Os deputados aceitaram e numa reunião em Janeiro de 2006 aprovaram a deliberação.
Actividades em todos os círculos eleitorais
A AEDAR está dividida regionalmente para que todos os ex-deputados actualmente a viverem fora de Lisboa possam juntar-se. Todos os meses realizam-se "os almoços culturais", em Bragança ou em Beja. O encontro de lançamento decorreu em Lisboa, logo em 2005. Foi convidado Ernâni Lopes, para falar sobre os desafios da Europa.
Conferências editadas em livro
Antes do fim do mês será publicado o primeiro volume da AEDAR com a edição completa da conferência "Estado e Religião" que contou com uma exposição do cardeal José Policarpo em Dezembro de 2006."
In JN Arquivo - 11 de novembro de 2007