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Emprego, Educação e Reengenharia de Funções - Um Sistema Educativo para as Profissões do Futuro

Descrição

Emprego, Educação e Reengenharia de Funções

Ciclo de Conferências/Debate

1ª Conferência

Um Sistema Educativo para as Profissões do Futuro


Local: Auditório do Edifício Novo da Assembleia da República

Data: 29 de Fevereiro de 2016

Oradores:

            David Justino

            Augusto Mateus

Moderador:

              Pedro Marques Lopes


Resumo da Conferência 


" A dia 29 de Fevereiro a AEDAR realizou conjuntamente com a CVP a 1ª Conferência de um Ciclo de Conferências / Debate agendadas para este ano sobre a temática Emprego, Educação e Reengenharia de Funções.

A 1ª Conferência abordou o seguinte tema “ Um sistema educativo para as profissões do futuro”. Contámos com a presença dos seguintes oradores: David Justino e Augusto Mateus, tendo contado com a participação de Pedro Marques Lopes como moderador. 

Desta Conferência podemos sintetizar alguns dos pontos mais importante focados durante a conferência e durante o debate, que foram bastante esclarecedores.

 Iniciou-se a Conferência com o Prof. David Justino.

A primeira questão fundamental colocada foi “ O que se entende afinal por conhecimento?”. Defendeu que, actualmente, o conhecimento é um produto transaccionável, tal como outro qualquer bem ou produto de mercado, o conhecimento incorporado nas pessoas é um bem que se importa e exporta porque o mercado actual vende capacidades e transporta de uns países para os outros pessoas e conhecimentos, o que confere um elevado grau de valor ao conhecimento na sociedade em que vivemos actualmente.

O valor do que fazemos actualmente é maior porque existe maior conhecimento, investigação, ou seja, acredito que o maior valor que as sociedades possuem actualmente é precisamente o conhecimento de cada pessoa e, por esta razão, quanto mais uma sociedade for instruída, quanto mais fomentarmos a aquisição de conhecimentos, mais prósperos poderemos ser enquanto país, tendo a capacidade de nos adaptarmos às constantes mudanças internacionais das necessidades dos mercados.

A Escola tem um papel crucial, enquanto elemento de transmissão de educação e conhecimento, no entanto, a Escola tem de perceber que ao ensinar os seus alunos, deve prepará-los para se adaptarem a situações não previstas, a mercados cada vez mais segmentados e cada vez mais mutáveis. Em suma, a Escola não pode ser estática, tem de evoluir e conduzir de forma séria a forma como instruí os seus alunos, de modo a ensiná-los a adaptarem-se à nova realidade do mercado e às suas constantes mutações.

O mercado de trabalho tradicional quase que deixou de existir, o mercado internacionalizou-se, tornando-se um risco para o conceito que a nossa sociedade tem de mercado de trabalho. Em Portugal é mais fácil um trabalhador emigrar para a Inglaterra do que, por exemplo, deslocar-se de Lisboa para Bragança.

O custo de um aluno no sistema de ensino nacional é elevado, dado que, o número de pessoas com conhecimentos que emigram é cada vez mais elevado, estamos a exportar conhecimento a custo zero para estes países, perdendo Portugal este valioso material humano que é o conhecimento.

 Passando a palavra ao Prof. Augusto Mateus a primeira ideia que este nos deixou foi a importância da Educação enquanto sistema de elevação social, ou seja, a possibilidade de estudar e de adquirir conhecimento ao longo da vida permite ascender socialmente através da obtenção de melhores empregos e, inexoravelmente, melhores rendimentos desse trabalho. 

A questão colocada foi: “ Como obter do actual sistema de ensino nacional resposta para esta questão”, dado que o mercado nacional mudou, não há emprego para todos, nem empregos qualificados para todas as pessoas com qualificações que temos. A Escola e todo o sistema nacional de ensino têm de reflectir bastante sobre esta matéria.

A grande questão é que o sistema de ensino nacional focaliza-se apenas no presente, no curto prazo, esquecendo-se que o mundo é global, que estamos inseridos nesse mundo e que este está em permanente mutação e as escolas e os seus programas deveriam acompanhar, desde o início da fase escolar, aos 6 / 7 anos, este ritmo de constante mudança.

Outro factor de relevo é o facto de o ensino não ser algo democrático, contudo, deve ser usado para a saudável manutenção da democracia. Existe ainda uma elevada iliteracia política e democrática nos cidadãos, mesmo naqueles que possuem graus académicos.

A aprendizagem (de preferência contínua) é o segredo para a resolução dos nossos problemas. Há uma grande confusão, actualmente, entre o conceito de conhecimento e informação. Um cidadão informado não significa que seja um cidadão enriquecido de conhecimento, pelo contrário. Pode-se ter a informação útil sobre algo sem se ter o conhecimento.

Para uma sociedade bem-sucedida a aprendizagem, na sua globalidade, deve ser transmitida, as pessoas com capacidades que criam, coordenam e gerem organizações, devem conseguir que estas perpetuem os seus conhecimentos para além deles e depois deles.

Isto só será possível se a formação for de referência nas escolas, portanto, temos de formar jovens cada vez mais capacitados, mas também não pudemos deixar que as empresas e organizações eliminem dos seus quadros laborais a sabedoria dos mais velhos. Esta deve ser aliada à capacidade e inovação dos mais jovens. A realidade é que este pormenor, tão importante, tem faltado na nossa sociedade e no nosso tecido empresarial.

A educação é a base fundamental para a cidadania, para a causa pública e para o privado, ela é mesmo a solução para grande parte dos problemas nacionais e internacionais. Sem educação nenhuma sociedade próspera, e esta educação deve ser ministrada preparando os alunos, desde muito cedo, para as constantes mutações do mundo, dos mercados e da própria sociedade.

A economia dos últimos 30 anos funcionou a partir das necessidades, isto é, adaptou-se a produção à procura e não o contrário. Esta mudança foi de tal forma colossal, que passámos do produzir primeiro e vender depois, para uma economia em que se vira primeiro para a procura, para a venda, e só depois para a produção, ou seja, só se produz aquilo que se tem a garantia de ser vendável.

Esta alteração na economia de mercado acelerou a produção porque o consumidor passou a ser o segmento que guia a produção e não o contrário.

A segunda fragmentação da economia mundial foi o aparecimento massivo de novas tecnologias de comunicação e informação. Estas conduziram a uma redução de custos do trabalho, de deslocações e de diferenças sociais, dado que globalizaram o mundo no acesso às mesmas condições de vida: saúde, educação e informação.

Como pode então uma sociedade funcionar melhor, colmatando falhas e corrigindo lacunas na sua estrutura económica? Esta é uma resposta difícil. Uma sociedade só pode corrigir falhas e lacunas económicas tornando-se eficiente a nível económico, ou seja, a economia nacional deve ter em conta que ser eficiente é obter margem de manobra para tudo.

 Por exemplo, no caso da indústria. O valor da economia associado à indústria assenta em dois pontos principais: investigação e desenvolvimento. Isto é, O valor da economia está onde estão os produtos, onde podemos escolhê-los ao melhor preço e na proximidade ao consumidor, conhecendo e antecipando a procura porque produz para quem quer e pode comprar.

Em Portugal esta não é ainda a realidade. Temos uma indústria transformadora mas com pouco valor comercial, continuamos a produzir esperando que comprem, não nos adaptámos às mutações mundiais da economia e a educação é indispensável neste processo. Só assim poderemos ser novamente competitivos.

Em suma, uma economia competitiva é aquela que gera valor e tem por base a realidade do mercado e dos consumidores. Transformar a Escola no grande terreno vanguardista é um objectivo a cumprir. A função da Escola deve ser, cada vez mais, preparar os alunos para a realidade, não apenas a do presente, mas principalmente o que será o mundo no futuro, isto é, anteciparmo-nos ao mercado e ao que será feito daqui a 10 anos e não agora.

 Passando novamente a palavra ao Prof. David Justino nova questão se colocou: “ Aprende-se só na Escola?”. “ Qual a importância das empresas na aprendizagem enquanto geradoras de valor social?”.

 Criou-se a ideia que a escola é o local onde se aprende a aprender , a busca pelo prazer do conhecimento nem sempre está associada a este método de ensino que temos, uma vez que, nas camadas jovens o interesse pelas disciplinas dadas é muitas vezes reduzido, só se alcança o prazer por aprender e o desejo de querer aprender mais quando a formação que adquirimos se torna útil, e entra na realidade da nossa vida.

A forma como o ensino é ministrado actualmente desvaloriza essa necessidade de transmitir aos alunos a importância do conhecimento. Um aluno que não seja bem-sucedido a matemática pode ser, contudo, óptimo aluno a português.

Desvaloriza-se nas escolas as capacidades e os dons de cada aluno, se uma criança tem uma tendência natural para gostar mais de uma disciplina do que outra, então deve ser incentivada a dedicar-se, com prazer, a explorar cada vez mais os seus conhecimentos sobre essa disciplina.

Assim, o aluno não sentirá o peso do insucesso sobre si, nem se sentirá desmotivado na escola porque terá o prazer de se sentir realizado na disciplina ou disciplinas que mais gosta.

A escola precisa de hábitos de trabalho, de ensinar a aprender que há determinadas matérias que só se aprendem depois de as compreendermos, embora, o método usado nas escolas continue a ser o treino, o estudo e a memorização.

Memorizar nem sempre significa compreender ou aprender. Por muito aborrecidas que determinadas matérias nos sejam em idade escolar, serão úteis mais tarde. Por isso, é importante que a escola direccione o seu método de ensino para o incentivo, para a aprendizagem e para a compreensão global do que se ensina.

È a escola que tem de ter o papel de criar nos seus alunos a rotina da aprendizagem, demonstrando igualmente que a aprendizagem não termina quando concluímos os estudos, é eterna e continua, em suma, ao longo da vida estamos constantemente a aprender.

Neste processo de aprendizagem contínua as empresas nacionais têm um papel a desempenhar: é nelas que os conhecimentos já adquiridos se colocam em prática, porém, as próprias empresas devem fomentar e facilitar a formação contínua dos seus empregados, não deixando a estagnação de conhecimentos impedir também a estagnação da empresa e do mercado, dado que, a sociedade actual está em constante mudança e temos de nos adaptar, a nível global, a estas mudanças. Esta adaptação faz também parte do processo contínuo de aprendizagem.

Resumindo, a escola tem o papel crucial na preparação das pessoas para o futuro, nela assentam as bases de formação e preparação dos alunos para o futuro, para um mundo em constante mutação, portanto, o que aprendemos hoje tem de se adaptar ao que será o mundo daqui a 10 anos.

Esta é a única forma de crescermos enquanto sociedade, sermos cidadãos conscientes e prosperarmos economicamente. "

 




 

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